segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Grafite reverso em São Paulo



A cidade de São Paulo tem um dos maiores índices de poluição do ar. Sem dúvida, compatível com uma frota de veículos gigantesca que tenta circular pela caótica metrópole. E foi essa a matéria prima do projeto de intervenção urbana que Alexandre Órion desenvolveu.
Grafite reverso. Removendo com um pano as camadas de fuligem acumuladas na parede do túnel da av. Cidade Jardim, Órion foi realizando sua composição. Da sujeira emergiu seu Ossário. Crânios humanos tomaram a parede do túnel, numa clara alusão à qualidade de vida dessa cidade.
Foram várias noites. Várias intervenções da polícia acompanhando o trabalho do artista e enfrentando o fato de que limpeza urbana não é crime, nem contravenção. Quando a intervenção já tinha alçando 160 metros, a prefeitura resolveu agir lavando a parede somente nessa área onde estava o Ossário.
Mas, como a matéria prima permaneceu no restante do túnel, Órion continuo com seu trabalho. Até que a prefeitura, polícia, CET, resolveram lavar todos os túneis.







Com os resíduos que retirou do túnel, Órion realizou a obra Cegonheiro.




Os registros desse projeto participaram da mostra realizada pelo SESC/Pinheiros, A Conquista do Espaço - novas formas da arte de rua.


domingo, 25 de novembro de 2007

Cidades





Hablo de la ciudad,
pastora de siglos,
madre que nos engendra y nos devora,
nos inventa y nos olvida.
Octavio Paz



sábado, 24 de novembro de 2007

Grafite reverso

Quantas vezes você já escreveu numa superfície repleta de sujeira:
- LAVE-ME!

Como toda idéia simples essa também é genial. Sem uso de tintas, pincéis ou latas de spray, a proposta do grafite reverso é de desenhar, escrever, enfim, grafitar nas paredes e muros, removendo a poeira, a fuligem, a poluição que sai dos escapamentos dos milhares de veículos que circulam pela cidade, acumulando camadas e camadas de sujeira. Uma intervenção urbana completamente ecológica, amiga do meio ambiente.
O britânico Paul Curtis, conhecido como Moose, é considerado pioneiro nesse estilo. Por suas intervenções de limpeza urbana, Moose foi acusado de vandalismo e ameaçado com o Anti Social Behavior Act . As autoridades intimaram o artista a retirar suas intervenções e deixar tudo como estava anteriormente. O hilário da situação é imaginar como isso poderia ser feito. Sujando tudo novamente?



quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Virtual Real?


Fotografei o grafite num pequeno beco da Vila Madalena. A luz daquele final de tarde, a composição, a fusão dos vários elementos, nuvens, tronco e galhos, folhas, cores, sombras, o lúdico dessa intervenção urbana, as mutações que se processam entre real-virtual-real, me conduziram por uma viagem sobre os sentidos que essas categorias adquiriram nos espaços cibernéticos, nas artes, na fotografia.
O virtual no sentido tradicional, dicionarizado, entendido enquanto vírtus, virtualis, que existe como potencia, como faculdade possível, realizável, exeqüível, que é conceitual, que não é físico, como simulacro do real e, por outro lado, as colocações de Pierre Levy, para quem o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual.
O virtual visto como “o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização.” O virtual traz uma potência de ser, enquanto o atual já é.

Para Levy, “a virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado.”
Será que toda representação não instaura esse processo de “mutação”? Luz, linhas e cores, espaços... Estou pensando no projeto METABIÓTICA, de Alexandre Órion, fotógrafo, artista plástico, grafiteiro.
METABIÓTICA, metabiose, simbiose intermediária, modo de vida em que um organismo depende de tal modo de outro que não pode viver sem que este o preceda e influencie um desenvolvimento favorável.
METABIÓTICA, quando “pintura e fotografia dividem um mesmo ambiente como dois organismos inseparáveis e incompatíveis entre si. O objeto fotográfico é o ambiente no qual não se distingue o limite entre o elo e o duelo das linguagens. Há algo além das duas óticas: uma fenda tênue e infinita que nos conduz à inexistência” (Alexandre Órion)
O stencil no muro, a máquina fotográfica preparada, o transeunte que passa e interage com o que vê, o registro fotográfico.
“Àqueles que, porventura, estiverem perguntando que tipo de montagem é essa, respondo: nenhuma! Essas pinturas estão nas paredes das ruas de São Paulo, foram pensadas para se instalarem onde as vemos agora, dentro do quadro fotográfico. Concebidas para ameaçar com sua carga de ficção e com suas falhas representacionais a credibilidade que a fotografia, em geral, sugere. Me atreveria dizer que essas fotografia compõem não apenas um ensaio fotográfico, artístico, mas são antes um registro, quase fotojornalístico, do duelo entre linguagens. O duelo interminável entre pintura e fotografia que, no tempo da informação, nos faz pensar em quão frágeis são as imagens.” (Alexandre Órion)










terça-feira, 20 de novembro de 2007

Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar






O cantor, compositor e rabequista Siba Veloso e a Fuloresta, músicos da zona da mata pernambucana, maracatu rural, lançaram o álbum Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar.
As ilustrações da capa e encarte do CD são dos artistas grafiteiros Osgêmeos, Gustavo e Otávio Pandolfo. Bela parceria. Interessante fusão entre rural/urbano/pernambucano/paulista.
Dos muros da cidade para os museus e galerias de arte, os grafitis se integram à imagética contemporânea.


12 LINHAS
Em cada palmo de terra
Tem uma cruz enfincada
De quem morre em emboscada
De fome ou por acidente
Em qualquer um continente
Um conflito tumultua
Em cada beco de rua
Uma criança infeliz
Que o pai gerou e não quis
A mãe pariu e deixou
E ela se transformou
Numa vítima do país
(siba/zé galdino)







sábado, 17 de novembro de 2007

Jam session


Alguns acreditam que a origem da palavra está em jam, geléia, ou seja, mistura de estilos. Mas também já vi o significado associado a uma sigla: Jazz After Midnight.


De qualquer forma, refere-se a um grupo de músicos improvisando sobre um tema proposto. Empregado originalmente para o jazz, o termo também passou a ser usado para outros tipos de música. O significado é sempre o mesmo: uma improvisação sobre um tema conhecido de todos sem ensaios ou arranjos prévios.











terça-feira, 13 de novembro de 2007

Bestiários


Bestiários são manuscritos medievais, verdadeiros catálogos que reuniam as informações existentes sobre animais. As descrições muitas vezes sofriam influência das lendas e mitos locais, dai os catálogos descreverem animais reais e imaginários ou fantásticos, como dragões, sereias e unicórnios.
Os bestiários eram copiados por monges e à medida em que eram escritos outros animais iam se incorporando, numa revisão constante. Os manuscritos eram ilustrados com iluminuras, muitas vezes complementando as descrições. Os mais antigos são do século XII. O objetivo das descrições não era de compreensão da natureza, da anatomia dos animais, mas de revelar a obra do criador. Também era atribuído um sentido místico, alquímico para vários animais.

Os RPG também criam seus próprios bestiários, muitas vezes com inspiração naqueles escritos pelos monges medievais. Os quadrinhos e games também.
Eles agora estão a solta, nos muros da cidade, espreitando sua passagem.






























domingo, 11 de novembro de 2007

Bestiário





bicho da seda, bicho do pé, bicho da tromba de elefante,

bicho de buraco, bicho de fogo, bicho da terra,

bicho careta, bicho de parede, bicho cabeludo, bicho bola, bicho preto,

bicho que pega, bicho que come,

bicho carpinteiro, bicho engenheiro, bicho barbeiro,

bicho da consciência,

bicho preguiça,

bicho barulhento, bicho de conta, bicho de ouvido,

bicho gordo, bicho de toca,

bicho do pau oco, bicho trem, bicho peludo,

bicho de frade, bicho do mato, bicho geográfico,
bichos escrotos,

bicho acuado,


bicho grilo, bicho papão,

bicho homem,

bicho de sete cabeças

é virar bicho

e ver que bicho dá
























segunda-feira, 5 de novembro de 2007

As paredes têm ouvidos, os muros discursos


Numa época de crise das representações, de falta de credibilidade, de desconfiança das instituições e dos atores tradicionais da política, o que anda pelos muros ?





sábado, 3 de novembro de 2007

Cidade das mulheres





Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona

que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
A minha loucura, escada
sobre escada.
Mulheres que eu amo com um desespero
fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.

Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.
Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.
Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente.




Herberto Helder

Tipos urbanos










Grafite é arte urbana. Seu ambiente é urbano, seus temas e personagens são urbanos.