quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Virtual Real?


Fotografei o grafite num pequeno beco da Vila Madalena. A luz daquele final de tarde, a composição, a fusão dos vários elementos, nuvens, tronco e galhos, folhas, cores, sombras, o lúdico dessa intervenção urbana, as mutações que se processam entre real-virtual-real, me conduziram por uma viagem sobre os sentidos que essas categorias adquiriram nos espaços cibernéticos, nas artes, na fotografia.
O virtual no sentido tradicional, dicionarizado, entendido enquanto vírtus, virtualis, que existe como potencia, como faculdade possível, realizável, exeqüível, que é conceitual, que não é físico, como simulacro do real e, por outro lado, as colocações de Pierre Levy, para quem o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual.
O virtual visto como “o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização.” O virtual traz uma potência de ser, enquanto o atual já é.

Para Levy, “a virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado.”
Será que toda representação não instaura esse processo de “mutação”? Luz, linhas e cores, espaços... Estou pensando no projeto METABIÓTICA, de Alexandre Órion, fotógrafo, artista plástico, grafiteiro.
METABIÓTICA, metabiose, simbiose intermediária, modo de vida em que um organismo depende de tal modo de outro que não pode viver sem que este o preceda e influencie um desenvolvimento favorável.
METABIÓTICA, quando “pintura e fotografia dividem um mesmo ambiente como dois organismos inseparáveis e incompatíveis entre si. O objeto fotográfico é o ambiente no qual não se distingue o limite entre o elo e o duelo das linguagens. Há algo além das duas óticas: uma fenda tênue e infinita que nos conduz à inexistência” (Alexandre Órion)
O stencil no muro, a máquina fotográfica preparada, o transeunte que passa e interage com o que vê, o registro fotográfico.
“Àqueles que, porventura, estiverem perguntando que tipo de montagem é essa, respondo: nenhuma! Essas pinturas estão nas paredes das ruas de São Paulo, foram pensadas para se instalarem onde as vemos agora, dentro do quadro fotográfico. Concebidas para ameaçar com sua carga de ficção e com suas falhas representacionais a credibilidade que a fotografia, em geral, sugere. Me atreveria dizer que essas fotografia compõem não apenas um ensaio fotográfico, artístico, mas são antes um registro, quase fotojornalístico, do duelo entre linguagens. O duelo interminável entre pintura e fotografia que, no tempo da informação, nos faz pensar em quão frágeis são as imagens.” (Alexandre Órion)










2 comentários:

Anônimo disse...

Impressiona-me a criatividade desses grafiteiros. Impressiona-me ainda mais a sensibilidade de quem a fotografou. Essa mistura de virtual e real me faz lembrar a vida numa fusão dos mais variados sentimentos.
Adorei!

VELOSO disse...

Adoro grafite e intervenção urbana acho que só não me aventurei por esse caminho por uma terrivel timidez , adoro seu blog, valeu1