sexta-feira, 20 de junho de 2008

para um poema de lélia coelho frota

A equilibrista
despe a pele
por braços e pernas
dorso
em avesso
na travessia arriscada
de ser.

Frentista de um produto arriscado
- o próprio corpo –
se vira em duas
para agarrrar as mãos
que são suas.

A equilibrista agarrada
no fio controlado da sua
passagem elástica
se vira em quatro.
(A equilibrista
vive
de improviso
acrobático.)

Bicho que arrasta
patas, cara de gente,
boca
de gata.


Como é pequeno o espaço que lhe é dado
para passar o corpo deeesdobrado
que termina por crescer no quadro
para não cair, para ser segurado.

A equilibrista projeta ser
como um desenhista o desenho.
Mas para ser, o caminho é estreito:
há trecho em que só a mulher passa,
tem outro que só a esfinge devassa.

A equilibrista é uma dupla esforçada
metade gente, metade bicho.
(Mas não desistirá do capricho
de explorar o seu próprio espaço.)


2 comentários:

Rose disse...

Belo poema e bela imagem, Rose.
Um cantinho maravilhoso o teu blog.
Beijos, carinho..

Marcinha disse...

"...há trecho em que só a mulher passa,
tem outro que só a esfinge devassa."
AMEI SUAS LETRAS!
PARABÉNS!!