sábado, 10 de janeiro de 2009

sobre sonhadores


Era uma vez dois homens cansados que chegaram à beira de um rio numa tarde de verão. Eles faziam uma longa viagem juntos e pararam ali para descansar. Pouco depois o mais jovem adormeceu, enquanto o outro ficou observando sua boca aberta. Vocês acreditariam se eu dissesse que uma pequena criatura, que segundo todas as aparências era uma linda borboleta, saiu voando de dentro de seus lábios?

A borboleta voou direto para uma pequena ilha no meio do rio, onde posou numa flor e sugou seu néctar. Então ela passou a dar voltas em torno daquele recanto, que deveria parecer enorme para um inseto daquele tamanho, como que se deliciando com o Sol e a suave brisa. Logo encontrou outra borboleta, e juntas dançaram no ar como um casal de namorados.

A primeira borboleta pousou outra vez em um galho que balançava levemente. Depois de um momento ou dois, reuniu-se a uma nuvem de insetos grandes e pequenos, dos mais variados tipos, que fervilhavam em torno da carcaça de um animal que jazia na grama verdejante. Vários minutos se passaram.

Distraidamente, o homem acordado jogou uma pedrinha na água, bem perto da ilha. As ondas que formaram respingaram na borboleta, que de início quase naufragou, mas depois, com dificuldade, sacudiu os respingos das asas e recomeçou a voar rapidamente na direção da boca do homem que dormia.

Mas nesse momento o outro viajante pegou uma folha grande e segurou na frente do rosto do companheiro para ver o que a borboleta faria. A pequena criatura investiu contra este obstáculo repetidas vezes, como que em pânico, enquanto o homem adormecido começava a contorcer-se e a gemer.

O homem que atormentava a borboleta retirou a folha e ela voou, rápida como uma flecha, para dentro da boca aberta. Nem bem tinha entrado e o homem estremeceu e despertou.
Então, ele disse para o amigo: - acabo de ter uma experiência muito desagradável, um terrível pesadelo. Sonhei que estava morando num castelo seguro e agradável, mas fiquei inquieto e resolvi explorar o mundo lá fora.


No meu sonho, viajei por meios mágicos para um país distante, onde tudo era alegria e prazer. Por exemplo, eu bebi o quanto quis de uma taça de ambrosia. Conheci uma mulher de beleza incomparável e dancei com ela, vivendo as alegrias de um verão sem fim. Diverti-me com bons companheiros, pessoas de todas as espécies e condições, naturezas, idades e tipos físicos. Houve algumas coisas tristes, mas só serviram para enfatizar os prazeres daquela existência.

Essa vida durou muitos anos. De repente, e sem qualquer aviso, aconteceu uma catástrofe: onda enormes invadiram aquela terra. Eu me molhei todo e quase me afoguei. Eu me vi correndo em disparada em direção ao meu castelo, como se tivesse asas. Mas quando eu cheguei ao portão não conseguia entrar. Uma imensa porta verde tinha sido levantada por um gigantesco espírito maligno. Eu me atirei contra essa porta, empurrando-a várias vezes, mas ela não cedeu.

De repente, quando sentia que estava para morrer, lembrei-me de uma palavra mágica que servia para dissipar encantamentos. Tão logo a pronunciei o grande portal verde caiu como uma folha ao vento. Pude entrar em casa outra vez e viver em segurança desse dia em diante. Mas eu estava tão assustado que acordei.

Bem, vocês, como devem ter adivinhado, são a borboleta. A ilha é o mundo. As coisas de que vocês gostam, ou não gostam, raramente são o que pensam que são. Mesmo quando chega a sua hora de partir, ou quando você pensa sobre isso, você apenas encontra distorções dos fatos, e é por isso que esta questão não pode ser compreendida de um modo comum. Mas além da borboleta está o homem adormecido. Atrás de ambos está a verdadeira Realidade. Dada a oportunidade correta, a borboleta pôde aprender sobre estas coisas: de onde ela realmente vem, da natureza do homem adormecido e daquilo que há além da borboleta e do homem adormecido.

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