quinta-feira, 13 de março de 2008

sociedade do automóvel


Falar dos problemas do trânsito, em São Paulo, se tornou uma obviedade. Há anos o colapso vem se anunciando. Virou rotina os congestionamentos quebrarem seus próprios recordes. Ontem, às 9hs da manhã, havia 186 km de lentidão. Sim, é desesperador. E explosivo. Semana passada, moradores da região sul inconformados com a lentidão e os problemas no transporte coletivo, realizaram um protesto quase espontâneo: interditaram a Estrada M Boy Mirim na altura do terminal de ônibus Guarapiranga. O resultado foi queima e depredação de ônibus, manifestantes presos e feridos, e o efeito dominó no trânsito da cidade. Imagine passar 30, 40, 50% do tempo da sua jornada de trabalho no trânsito... São muitos os dias de fúria.

Pode-se sempre argumentar, mas os fatos estão ai.

A ANFAVEA, associação que reúne as montadoras instaladas no Brasil, declarou que o ano de 2007 foi o melhor da sua história, as vendas e a produção foram recordes. Foram licenciados 2,463 milhões de novos veículos, 27,8% a mais do que em 2006. Para 2008, as previsões são de uma alta de 17,5% nas vendas internas.

O Departamento Estadual de Trânsito divulga mensalmente o total de veículos motorizados. Em janeiro, havia 5.989.234 veículos na cidade e 17.583.419 no Estado; em fevereiro, 6.019.136 e 17.685.584 respectivamente. É o que eles chamam de frota do Estado.

A CETESB, agência ambiental paulista, divulgou dados preliminares do seu relatório anual de qualidade do ar. Os dados revelam que em 2007, houve um aumento de 54% no número de vezes em que qualidade do ar ficou imprópria. Esse dado rompe um ciclo de declínio nos níveis de poluição do ar registrado desde 2002. Ou seja, as vantagens adquiridas com os carros de melhor tecnologia foram superadas e derrubadas pelo aumento do número de veículos. Além disso, estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que a circulação do ar e condições atmosféricas podem levar os poluentes até a 600 km de distância, invadindo cidades do interior.


Pesquisadores do Incor divulgaram estudos realizados nos últimos 20 meses, com pacientes que procuraram seu Pronto-Socorro, mostrando que os dias mais movimentados são também os mais poluídos. A ocorrência de ataques cardíacos aumenta entre 7% e 12%. O Médico Paulo Saldiva, diretor do Laboratório de Poluição da USP, há anos alerta sobre as doenças relacionadas à poluição do ar: derrame, incapacidade mental, estresse, sinusite, câncer de tiróide, faringite, asma, bronquite, angina, enfarte, infertilidade, etc, etc, etc.


Bom, além de tudo há um acidente de trânsito a cada 3 minutos, uma pessoa morta no trânsito a cada 6 horas, 8 vítimas fatais por dia devido à poluição do ar, mais gases do efeito estufa, aquecimento global, mudanças no clima.

Os stencils de Celso Gitahy são a “mais perfeita tradução” desse poder da sociedade do automóvel. Por quanto tempo o automóvel ainda exercerá esse monopólio radical sobre o espaço e sobre as pessoas? Faça a sua parte. Deixe o carro em casa sempre que possível. Promova caronas solidárias com seus amigos, visinhos, parentes, conhecidos. Vá a pé, de bike, de patinete, skate, ou por qualquer meio não motorizado que você inventar. Use o telefone, skype, msn, evite deslocamentos desnecessários. A vida agradece.

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