As referências espaciais, tudo que mantém minha identidade com o meio, quando não desaparecem completamente, ficam restritas a um edifício, um monumento, ao que restou de uma praça, a um pequeno trecho de rua. Escassos elementos para reconstituir a paisagem na memória. Uma memória de cartão postal.
São Paulo foi sempre assim. Historiadores da cidade identificam as sucessivas fisionomias que a cidade adquiriu: a colonial cidade de taipa, a cidade européia da primeira república, a cidade modernista que se constrói a partir de 1930, e a metrópole conurbada, caótica, congestionada que emerge após os anos de 1960. São muitos os estudiosos e críticos desse destino. As políticas de preservação do patrimônio têm sido muito pífias na missão de conservar as paisagens urbanas.
A razão dessa falação toda são uns murais que tenho visto em vários pontos da cidade. Em comum, eles reproduzem fotos antigas de São Paulo, de vários períodos da sua história. Algumas vezes, a imagem reproduz uma foto do próprio bairro; em outras, patrimônios arquitetônicos são reproduzidos em áreas muito distantes. Quais são as intenções? Não sei. Eu, particularmente me sinto tocada pelas lembranças de paisagens que não existem mais ou foram muito modificadas. Surpresa com imagens deslocadas no tempo e no espaço. Nostálgica das minhas próprias paisagens. Crítica das paisagens que desapareceram sem qualquer registro porque produtos de atores sem voz na história.
Esses murais que estão num imenso portão de um depósito, na Mooca, além de reproduzirem paisagens de dois momentos distintos da história de São Paulo, trazem também, na figura de Adoniram Barbosa, a voz daqueles que removidos desaparecem junto com a paisagem.
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