terça-feira, 18 de agosto de 2009

prece


Senhora
das feras
e esferas

Senhora
do sangue
e do abismo

Senhora
do grito
e da angústia

Senhora
noturna
e eterna

- escuta-nos!
(orides fontela)

sábado, 15 de agosto de 2009

para um poema de clarice abdalla


Apenas uma trajetória visceral temporária
entre um lugar que é, sonha ser, sem deixar pegadas.
A única viagem sem retorno é o amor.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

para um poema de adília lopes


Eu julgava que aquilo era
um Luna Parque
saía-se como se entrava
e não acontecia nada irreversível durante
é o que é um Luna Parque
quando se é adolescente
mas não
quando dei por mim
já lá estava dentro
e não me lembrava
de ter entrado
quando disse agora quero-me
ir embora
riram-se ah minha rica
deste Luna Parque não se sai
quem cá vem não volta
não se volta atrás
então comecei a pensar
que ia passar o resto dos meus dias
no Luna Parque
acabas por aprender vais ver
a fazer das tripas coração
habituas-te vais ver
nos primeiros tempos dói
dá vontade de vomitar
depois percebe-se que
no Luna Parque que é
um sítio triste
pode não se ser triste
sai muito caro
mas poder pode-se

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

para um poema de suzana vargas





Quando escrevo o medo
é sempre o mesmo:
chegar atrasada ao que
quero dizer:

E de me dar por inteira
nua
e freira


terça-feira, 11 de agosto de 2009

para um poema de beth fleury



Com meu leite derramado
vou alimentar a ti
e aos exércitos
que nos erguerão acima do fogo
e de toda a dúvida.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

minguante

Da cuia da lua
a noite despejou estrelas
que beijei

derramou lágrimas
invernosas
que chorei.
Choveu.
(francis mary alves de lima)

domingo, 2 de agosto de 2009

para um poema de eucanaã ferraz

A palma da tua
mão não tem segredo
algum. Letra em tua mão
é de nome nenhum.
Não há mistério nem mensagem
no lenho aleatório.

Tua mão tem destino noutras palmas.
Confidência, piedade, ira. Deixa que,
aberta, distribua-se ao ponto – à perfeição –
de não ser mais tua mão: pátio,
pouso necessário de quem jamais te viu.