quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

ciclovias piratas


Confesso que não sei andar de bicicleta. Quando criança, só tive um triciclo, apesar dos inúmeros pedidos e negociações por uma bicicleta, dessas que têm rodinhas de apoio atrás. A cada ano eu morria de inveja dos amigos ou vizinhos que vinham para a rua exibir sua preciosidade. Rapidamente as tais rodinhas eram levantadas. O pai ia correndo ao lado, segurando no selim e, de repente, largava e lá ia o felizardo em ziguezague, sozinho, tinha aprendido a andar. Parecia tão fácil...

Aniversários e natais foram passando e nada da bicicleta chegar, até que ela foi preterida da lista dos desejos e acabou esquecida. Ficaram as fantasias de velocidade, do vento batendo na cara, possibilidades de locomoção, promessas de liberdade.



Anos depois, até houve uma tentativa de aprendizado mas redundou em fracasso: à ausência das rodinhas de apoio juntou-se a incerteza de poder encontrar o equilíbrio, o receio das quedas. Enfim, não sei andar de bicicleta. Vou a pé.


Todo esse blábláblá sobre a frustração de não ser ciclista bateu por causa da intervenção urbana que ciclistas e grafiteiros fizeram sinalizando com stencil algumas das principais avenidas da cidade. Criaram ciclovias piratas. Foi um protesto pela falta desse espaço na cidade, e um alerta pela falta de segurança e respeito ao ciclista.







Estima-se que 250 mil bicicletas circulem diariamente pela cidade, mas só existem 30 km de ciclovias e, assim mesmo, 19 km estão localizados em parques e áreas de lazer. Outras, vão do nada para lugar nenhum, como a da Av. Pedroso de Moraes, em Pinheiros. Em contraste, são quase 16 mil quilômetros de ruas. E é claro, saturadas pelos carros, congestionamento, poluição.

Legislação existe. Faltam políticas públicas. Estudos de mobilidade urbana mostram que a bicicleta é um bom meio de transporte sustentável. É uma alternativa possível para cidades de vários portes. Mas é preciso investir em ciclovias, e quando estas não forem possíveis, no mapeamento e divulgação de rotas alternativas, em sinalização, em sistemas integrados com os transportes públicos, em bicicletários, em educação para ciclistas, pedestres, motoristas. É viável e necessário e urgente. Em tempos de efeito estufa, de mudanças climáticas, todas as alternativas devem ser consideradas. E as eleições para os novos alcaides estão ai. Não se esqueça.
Se puder, vá de bike.


3 comentários:

Carmem Silvia disse...

Menina!
Eu também não sei andar de bicicleta! Minha história com as duas rodas é bem semelhante à sua. Será prerrogativa das que nasceram naquele 53? (risos)
Adorei sua reportagem - escrita e fotográfica - em favor das bikes!
Será que há instrutores para velhas senhoras medrosas que ainda querem ser ciclistas?

Flora disse...

Algumas de 58 também têm essa prerrogativa!
Serei a terceira nesse curso. A turma parece que vai ser grande!

Beth Gutierres disse...

Também adorei a sua reportagem. Adoro andar de bicicleta. Acho importante para saúde física e emocional. Pena que atualmente moro em Porto Alegre, apesar de ser paulistana, senão me ofereceria para ensiná-las a andar de byke. No Parque do Ibirapuera alugam-se bicicletas. Tenho uma técnica infalível, com certeza as três aprenderiam rapidamente. Abraços.